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AMOR NATURAL CULINÁRIA

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sexta-feira, dezembro 16, 2005

CENTENÁRIO DO NASCIMENTO DE ÉRICO VERÍSSIMO!!


Amanhã 17/12/2005 lembra-se o centenário de nascimento de ÉRICO VERÍSSIMO, antecipo pois, a minha homenagem ao escritor, que além de belas obras, nos deixou seu filho, também brilhante escritor e cronista - Luis Fernando Veríssimo.
À Érico Veríssimo nossas saudades, e o agradecimento pelo grande brasileiro que foi e pela obra que deixou!!!
Transcrevo como homenagem um fragmento de sua obra...

As mãos de meu filho
Erico Veríssimo

Todos aqueles homens e mulheres ali na platéia sombria parecem apagados habitantes dum submundo, criaturas sem voz nem movimento, prisioneiros de algum perverso sortilégio. Centenas de olhos estão fitos na zona luminosa do palco. A luz circular do refletor envolve o pianista e o piano, que neste instante formam um só corpo, um monstro todo feito de nervos sonoros.
Beethoven.
Há momentos em que o som do instrumento ganha uma qualidade profundamente humana. O artista está pálido à luz de cálcio. Parece um cadáver.
Mas mesmo assim é uma fonte de vida, de melodias, de sugestões — a origem dum mundo misterioso e rico.
Fora do círculo luminoso pesa um silêncio grave e parado.
Beethoven lamenta-se.
É feio, surdo, e vive em conflito com os homens.
A música parece escrever no ar estas palavras em doloroso desenho.
Tua carta me lançou das mais altas regiões da felicidade ao mais profundo abismo da desolação e da dor. Não serei, pois, para ti e para os demais, senão um músico?
Será então preciso que busque em mim mesmo o necessário ponto de apoio, porque fora de mim não encontro em quem me amparar.
A amizade e os outros sentimentos dessa espécie não serviram senão para deixar malferido o meu coração. Pois que assim seja, então!
Para ti, pobre Beethoven, não há felicidade no exterior; tudo terás que buscar dentro de ti mesmo.
Tão-somente no mundo ideal é que poderás achar a alegria.
Adágio.
O pianista sofre com Beethoven, o piano estremece, a luz mesma que os envolve parece participar daquela mágoa profunda.
Num dado momento as mãos do artista se imobilizam. Depois caem como duas asas cansadas. Mas de súbito, ágeis e fúteis, começam a brincar no teclado. Um scherzo.
A vida é alegre.
Vamos sair para o campo, dar a mão às raparigas em flor e dançar com elas ao sol...
A melodia, no entanto, é uma superfície leve, que não consegue esconder o desespero que tumultua nas profundezas.
Não obstante, o claro jogo continua.
A música saltitante se esforça por ser despreocupada e ter alma leve.
É uma dança pueril em cima duma sepultura.
Mas de repente, as águas represadas rompem todas as barreiras, levam por diante a cortina vaporosa e ilusória, e num estrondo se espraiam numa melodia agitada de desespero.
O pianista se transfigura.
As suas mãos galopam agitadamente sobre o teclado como brancos cavalos selvagens.
Os sons sobem no ar, enchem o teatro, e para cada uma daquelas pessoas do submundo eles têm uma significação especial, contam uma história diferente.

Nome: Erico Verissimo
Nascimento:17/12/1905
Natural:Cruz Alta - RS

Morte:28/11/1975


Carlos Drummond de Andrade faz homenagem ao amigo, na ocasião de seu falecimento, fazendo publicar o seguinte poema:

A falta de Erico Verissimo
Falta alguma coisa no Brasil
depois da noite de sexta-feira.
Falta aquele homem no escritório
a tirar da máquina elétrica
o destino dos seres,
a explicação antiga da terra.
Falta uma tristeza de menino bom
caminhando entre adultos
na esperança da justiça
que tarda - como tarda!
a clarear o mundo.
Falta um boné,
aquele jeito manso,
aquela ternura contida, óleo
a derramar-se lentamente.
Falta o casal passeando no trigal.
Falta um solo de clarineta.
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