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AMOR NATURAL CULINÁRIA

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quinta-feira, março 30, 2006

TEXTO DO DIA AMOR NATURAL- OS ESTATUTOS DO HOMEM!!


TEXTO DO DIA AMOR NATURAL: OS ESTATUTOS DO HOMEM
NA COMEMORAÇÃO AOS 80 ANOS DE THIAGO DE MELLO, UM DOS GRANDES POETAS E ESCRITORES BRASILEIROS!!
Quem dera que a humanidade pudesse ter um estatuto assim, seríamos, todos, mais felizes e viveríamos em paz !!

Os Estatutos do Homem
(Ato Institucional Permanente)

A Carlos Heitor Cony

Artigo I
Fica decretado que agora vale a verdade.
agora vale a vida,
e de mãos dadas,
marcharemos todos
pela vida verdadeira.

Artigo II
Fica decretado que todos os dias da semana,
inclusive as terças-feiras mais cinzentas,
têm direito a converter-se em manhãs de domingo.

Artigo III
Fica decretado que,
a partir deste instante,
haverá girassóis em todas as janelas,
que os girassóis terão direito a abrir-se dentro da sombra;
e que as janelas devem permanecer, o dia inteiro,
abertas para o verde onde cresce a esperança.

Artigo IV
Fica decretado que o homem
não precisará nunca mais duvidar do homem.
Que o homem confiará no homem
como a palmeira confia no vento,
como o vento confia no ar,
como o ar confia no campo azul do céu.
Parágrafo único:
O homem, confiará no homem
como um menino confia em outro menino.

Artigo V
Fica decretado que os homens
estão livres do jugo da mentira.
Nunca mais será preciso
usar a couraça do silêncio
nem a armadura de palavras.
O homem se sentará à mesa
com seu olhar limpo porque a verdade
passará a ser servida antes da sobremesa.

Artigo VI
Fica estabelecida,
durante dez séculos,
a prática sonhada pelo profeta Isaías,
e o lobo e o cordeiro pastarão juntos
e a comida de ambos terá o mesmo gosto de aurora.

Artigo VII
Por decreto irrevogável fica estabelecido
o reinado permanente da justiça e da claridade,
e a alegria será uma bandeira generosa
para sempre desfraldada na alma do povo.

Artigo VIII
Fica decretado que a maior dor
sempre foi e será sempre
não poder dar-se amor a quem se ama
e saber que é a água que dá à planta o milagre da flor.

Artigo IX
Fica permitido que o pão de cada dia
tenha no homem o sinal de seu suor.
Mas que sobretudo tenha
sempre o quente sabor da ternura.

Artigo X
Fica permitido a qualquer pessoa,
qualquer hora da vida,
uso do traje branco.

Artigo XI
Fica decretado, por definição,
que o homem é um animal
que ama e que por isso é belo,
muito mais belo que a estrela da manhã.

Artigo XII
Decreta-se que nada será obrigado
nem proibido, tudo será permitido,
inclusive brincar com os rinocerontes
e caminhar pelas tardes
com uma imensa begônia na lapela.
Parágrafo único:
Só uma coisa fica proibida:
amar sem amor.

Artigo XIII
Fica decretado que o dinheiro
não poderá nunca mais comprar
o sol das manhãs vindouras.
Expulso do grande baú do medo,
o dinheiro se transformará
em uma espada fraternal
para defender o direito de cantar
e a festa do dia que chegou.

Artigo Final.
Fica proibido o uso da palavra liberdade,
a qual será suprimida dos dicionários
e do pântano enganoso das bocas.
A partir deste instante a liberdade
será algo vivo e transparente
como um fogo ou um rio,
e a sua morada será sempre
o coração do homem.


O poeta amazonense tem sua obra baseada na exaltação da denúncia contra a opressão, o que lhe valeu viver vários anos exilado entre Argentina, Portugal, França e Alemanha, só retornando ao Brasil em 1978. Sua obra mais polêmica é o Os Estatutos do Homem, um conjunto de direitos e deveres líricos que corre o mundo em diversas edições estrangeiras.
Thiago de Mello nasceu em Bom-Socorro, Amazonas, quase na fronteira do Pará, em 30 de março de1926.
“Não fui profetizado. Aconteci.”
Estreou aos 25 anos com o livro de poemas Silêncio e Palavra. Rapidamente reconhecido, começou a participar do círculo dos intelectuais da época, convivendo com Carlos Drummond de Andrade e Manuel Bandeira. Adido Cultural da Embaixada do Brasil no Chile, nos anos 60, teve longa amizade com Pablo Neruda.
O golpe de 64 no Brasil decretou seu exílio. Na via-crucis aérea: Argentina, Portugal, França e Alemanha.
Só em 78 voltou ao país, tendo sua obra poética, publicada pela Civilização Brasileira e exaltada como denúncia contra a opressão.
Faz Escuro mas eu Canto firmou sua vocação humanista. “Não, não tenho caminho novo./ O que tenho de novo/ é o jeito de caminhar.” Sua obra mais polêmica é Os Estatutos do Homem, direitos e deveres líricos, peça antológica que corre o mundo em sucessivas edições estrangeiras.
Da sua bibliografia constam, ainda, A Canção do Amor Armado, Mormaço na Floresta, Num Campo de Margaridas, De uma Vez por Todas e Campo de Milagres.
Tradutor, é responsável por versões para a língua portuguesa de T.S. Eliot, Ernesto Cardenal, Cesar Vallejo, Nicolás Guillén, Eliseo Diego e Pablo Neruda.

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1 Comments:

  • At 6:19 AM, Blogger Ricardo Rayol said…

    Texto fantástico e delicioso de se ler... só faltou o artigo que diz respeito que nós homens temos direito a tomar nossa cerveja gelada vendo futebol e chegar bebados às sextas feiras sem tomar paneladas

     

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