POESIA PARA UM DOMINGO DE SOL CINZENTO!!!
Mais uma do meu amigo Fabricio Carpinejar, atualmente meu escritor preferido, lá do blog www.carpinejar.blogger.com.br . Hoje eu não estou bem de espírito, aconteceram coisas, não muito boas na minha vida, mas eu quero que você seja feliz, hoje e sempre, meu amigo!!
O domingo só está cinzento pra mim, o sol tá lindo lá fora, aproveite !!
FRACASSO
Não tive medo de fracassar na vida. Isso não! Eu sempre me senti o próprio fracasso. Seria desnecessário me assombrar. Restava-me não ser descoberto com facilidade. Fingi que escutava, que estava presente, que me interessava pela minha história. No fundo, não contei com outra alternativa.
Acreditei em mim porque ninguém iria acreditar em meu lugar. Como desejava que algum colega tivesse feito o difícil trabalho de confiar em mim e me dado um pouco de folga.
Queria dizer "cuide de minha vida, que já volto", assim como quem deixa um par de chinelos na areia para mergulhar.
Apartar-me um pouco da briga louca que é provar a todo momento que tenho sentido.
Desde que nasci, não encontrei descanso, sujeito a perder a qualquer instante o respeito.
Receio de perder os irmãos, os pais, a mulher, os filhos, os amigos. Perder a chance de ser lembrado. Perder a si por incompetência, já que não me ensinaram a ser o Fabrício.
Deram-me um nome e me acostumei a atender os chamados para aplacar a fome e a sede. Não tive mérito, um cão faria o mesmo por necessidade.
A solidão foi o meu caráter.
Descobri que não é se matando que me tornarei importante em minha vida. Não é me abandonando que me tornarei importante em minha vida. Não é fugindo que me tornarei importante em minha vida.
É amando o que me faltava amar: eu. Ali, escondido, mirrado, o menino que gostaria de ter sardas e ser ruivo, que passava horas sozinho para não ser obrigado a interromper o assobio. Não sou de chorar.
Quando estremeço, sou de abraçar, de costas para as lágrimas. Nasci sem expectativas. Não diria que conformado, que nunca fui. Mas é como se estivesse em desvantagem.
Demoro para aprender.
Eu tentava, mas um pensamento ficava atrás, saía do ritmo e não havia como buscar a turma depois.
Consentia com a cabeça para não atrapalhar a lição.
Não aceitava abandonar pensamentos de repente enquanto todos se apressavam em anunciar resultados. Não sobrei em casa, careci. Durmo até hoje encolhido. Achava a cama de solteiro espaçosa. Batia-me a culpa por desperdiçá-la. Um degrau me contentaria. Raramente consigo me recordar da infância. Meus três anos? Meus quatro anos? Meus cinco anos? Só com hipnose e ainda duvido.
Escrevo não por excesso de memória, pela fartura de vivência e aventura, e sim pela precariedade dela.
Anoto compromissos em agendas antigas, atrasado em preencher os dias em que não vivi. Invento lembranças para não parecer tão à toa e de passagem por aqui.
Tão a esmo. Tão vadio.
Ser processado por desviver e povoar um nome sem propósito e ambição. Faço um esforço para me mostrar ocupado, que nenhum emprego me faria suar dessa forma. Nas redações escolares, odiava temas como "conte-me suas férias".
Era capaz de plagiar os alegres veraneios da menina ao lado. Minhas mentiras são necessárias pelo simples fato de que não existem recordações para substitui-las.
Em apuros, tomo a memória de meus irmãos como se fosse minha.
Amadurecer é não estar preparado.
Quem afirma o contrário envelheceu antes de amadurecer.
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