O QUE É ISSO COMPANHEIRO?? GOLPE MILITAR DE 31/03/64?? E A DEMOCRACIA??
Lembrei-me pela manhã que a data do calendário não me era estranha, 31 de março, já estudei, pensei!! Ah, já sei o GOLPE MILITAR DE 1964 aconteceu nesta mesma data. Como não havia visto qualquer menção na TV e nas notícias da web sobre o assunto, pus-me a pensar, no quanto tantos sofreram para conseguir libertar o Brasil da ditadura, tantos morreram, tantos nunca foram encontrados após a prisão e a tortura,cujas famílias jamais conseguiram fazer seu enterro digno, e hoje tantos políticos que também lutaram , salvaram-se, foram expulsos, aniquilados e voltaram, esquecem e desrespeitam a democracia, alcançada a duras penas, por eles mesmos e uma geração inteira. Como entender????
Quando liguei a TV à tarde estava sendo reprisado no Canal Brasil o filme "O QUE É ISTO COMPANHEIRO", de 1997, Direção de Bruno Barreto, baseado no livro de Fernando Gabeira , de mesmo nome, que falava sobre esta luta!
Bingo! juntei tudo e aí vai uma postagem multifacetária, que fala do Golpe, da ditadura, da luta, da democracia, e do desperdício dela por um governo que se dizia também um lutador por um Brazil melhor!! Eles esqueceram rápido da luta!!! É o poder que muda os princípios de um homem??
O QUE É ISSO COMPANHEIRO??
O que o filme retrata?
Em 1964, um golpe militar derruba o governo democrático brasileiro e, após alguns anos de manifestações políticas, é promulgado em dezembro de 1968 o Ato Constitucional nº 5, que nada mais era que o golpe dentro do golpe, pois acabava com a liberdade de imprensa e os direitos civis. Neste período vários estudantes abraçam a luta armada, entrando na clandestinidade, e em 1969 militantes do MR-8 elaboram um plano para seqüestrar o embaixador dos Estados Unidos para trocá-lo por prisioneiros políticos, que eram torturados nos porões da ditadura.(Baseado no livro de mesmo nome de Fernando Gabeira)
Quem foi Fernando Gabeira?
Fernando Paulo Nagle Gabeira (Juiz de Fora MG 1941). Ingressou no jornalismo em 1964 como redator do Jornal do Brasil. Perseguido pelo regime militar, exilou-se em vários países, entre eles a Suécia, onde trabalhou como repórter de rádio e roteirista de TV. Entre os trabalhos realizados nesse período está um roteiro sobre o assassinato de Salvador Allende, presidente eleito do Chile, em 11 de setembro de 1973. Anistiado em 1979, volta ao Brasil e lança O Que É Isso, Companheiro?, livro em que relata sua participação no seqüestro do embaixador norte-americano Charles Elbrick.
A NOTICIA DO DIA:
NOVO MINISTRO DA DEFESA, ESCOLHIDO POR LULA, FALA DO GOLPE MILITAR DE 1964
Novo ministro da Defesa define como "golpe" o movimento de 64A visão de Waldir Pires está expressa no site da Controladoria-Geral da União Tânia Monteiro e Leonencio Nossa BRASÍLIA - Pela primeira vez desde a criação em 1999, o Ministério da Defesa será chefiado por um civil que classifica como "golpe" o movimento militar de 1964, episódio que coincidentemente faz 42 anos hoje.
O baiano Waldir Pires, de 79 anos, comandará as três Forças Armadas. O nome dele no cargo foi confirmado pelo porta-voz da Presidência da República, André Singer.
O até hoje controlador geral da República, Waldir Pires, foi escolhido ainda na noite de ontem pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva para chefiar a Defesa. Lula pensou, num primeiro momento, em nomear interinamente o comandante do Exército, general Francisco Albuquerque, para o cargo.
Mas a suposta decisão do general de atrasar um vôo comercial da TAM, na Quarta-feira de Cinzas, e o temor de possíveis críticas de setores da área de direitos humanos levaram o presidente a desistir da nomeação de Albuquerque.
No site da Controladoria-Geral da União, a biografia de Waldir Pires é clara quanto à visão do novo ministro da Defesa sobre o movimento de 1964. "(Pires) esteve à frente da Consultoria-Geral da República até 31 de março de 1964, dia do golpe que derrubou o governo do presidente João Goulart", destaca o perfil.
Com o golpe, Pires se exilou no Uruguai e depois na França.
Durante o processo de redemocratização, ele atuou no movimento pelas eleições diretas e se elegeu governador da Bahia pelo PMDB, ocupando o cargo de 1987 a 1989. Os militares chamam o movimento de 1964 de "revolução".
Veja também
¤ General da carteirada defende o golpe militar de 64
¤ Waldir Pires assume o Ministério da Defesa
A CONTRADIÇÃO:
Procurando dados sobre o filme encontrei esta crônica, escrita por Joaão Ubaldo Ribeiro, no início da crise política deste governo em 2005, e logo se vê as contradições de quem tanto lutou pela democracia, mas inebriou-se com o poder e esqueceu a luta árdua pela Democracia, tão heróica e demorada!
O QUE É ISSO, COMPANHEIRO?
João Ubaldo Ribeiro
Abordando o que vou abordar, corro o risco de desinteressar os leitores.
Culpa minha, claro, pois estarei tocando num assunto velho. Já é comum escreverem-se ensaios polissilábicos sobre como a massa de informação que nos bombardeia sobrecarrega a mente e nem temos tempo de pensar direito. E a tecnologia, cada vez mais célere, torna tudo obsoleto de um dia para o outro. Consumimos novidades, não queremos senão novidades, tudo envelhece em poucos dias, às vezes horas.
O massacre de ontem hoje não mais interessa e a corrupção denunciada hoje cansa, se repisada amanhã. Tudo, até a notícia, virou uma espécie de mercadoria e o consumidor quer o último lançamento.
Acrescente-se a isso a revelação vertiginosa de falcatruas e crimes. É um caleidoscópio enlouquecido, um carrossel desgovernado, uma lanterna mágica de trambiques, mentiras e armações sórdidas, apresentada em compasso tão desenfreado que não se pode acompanhá-lo. Puxa-se um fio e a meada, em lugar de diminuir, aumenta e leva a outra e esta ainda a outra, numa rede diabólica de manobras delinqüentes, trazendo a sensação de que o país é conduzido por gangues ou famílias mafiosas.
O espírito do homem de bem acaba por chegar a seus limites, o que se expressa em dezenas de formas, até mesmo evitando esses assuntos, por uma questão de sobrevivência psicológica e emocional, pois, afinal, para muitos, já soçobraram os valores, as crenças e os padrões incorporados à sua formação, o que pode tornar a vida insuportável.
Tenho ciência desse problema, mas não vou deixar de fazer meu registro de algo que não gosto de dizer, mas que alguém tem que dizer, porque estou seguro de muita gente pensa da mesma maneira. Não gosto de dizer o que vou dizer porque queria acreditar no contrário, achar fatos ou indícios que me desmentissem convicções que a cada dia mais se solidificam na minha cabeça e na de inúmeros concidadãos. Mas não encontro fato ou indício algum e, assim, entendo que cabe afirmar que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva desrespeita e subestima os governados, despreza-lhes a inteligência, julga-os cegos diante dos acontecimentos e surdos-mudos depois deles.
Infenso ao contato com a imprensa, a não ser para monologar, escolheu um método singular para dirigir-se ao país, em sua visita à França.
Com ar despreocupado, até fagueiro, que, em lugar da imagem de tranqüilidade que talvez quisesse projetar, dava a impressão de deboche quanto aos que vêem gravidade em nossa situação política, disse, com um cinismo que me assustou, pois era a última cara em que esperava vê-lo estampado, que era aquilo mesmo, que o PT tinha feito apenas o que é feito “sistematicamente”, no Brasil.
Portanto, conclui-se, não há razão para espanto ou desilusão.
Mas há razão para espanto e desilusão.
Ficam agora dizendo por aí que não se suporta mais um presidente operário e se quer depor um presidente operário. Em primeiro lugar, não estou apoiando e muitíssimo menos propondo, sua deposição, até mesmo por vias legais.
Em segundo lugar, votei no presidente operário, votou a esmagadora maioria do povo brasileiro e o que eu queria era ter orgulho de dizer isso, era encher o peito como cheguei a encher nos primeiros tempos.
Não fizemos uma revolução, optamos pela mudança por vias democráticas, levamos ao poder um operário, um herói de origem humilde, um lutador, um desbravador, um que se proclamou ser aquele que mudará.
E de fato mudou. Quer dizer, mudou ele. Hoje temos a nos presidir um assassino de sonhos e esperanças, um que diz, com o semblante jovial, que o partido que vinha para mudar já começou por não mudar coisa nenhuma, ou melhor, ao que tudo indica, aperfeiçoou os mecanismos do embuste e da ladroagem, a partir da própria campanha. É isso mesmo, que queríamos, que o PT efetivamente representasse mudança, que ingenuidade é essa, que otários somos?
Portanto, o presidente devia saber do que se passava, certamente não em detalhes, mas em linhas gerais. É assim que se faz, quem não sabe disso?
Numa entrevista que dei, referi-me a ele como ignorante. Confirmo.
Mas a entrevista, por questão de espaço, precisou ser editada e, no muito que se teve de excluir, deixei claro que, quando disse “ignorante”, o fiz apenas para ilustrar uma afirmativa e utilizo a palavra no sentido de formalmente inculto. Pois ignorante, infinitamente ignorante em relação a ele, sou eu, naquilo que ele – que, além de tudo, é muito inteligente, apesar da preguiça intelectual ou geral – domina magistralmente, o tornou artífice principal de uma obra política sem precedentes e o conduziu à posição em que está e que agora o revela como na inquietantemente profética frase do Barão de Itararé: “Queres conhecer o Inácio, coloca-o num palácio”.
O candidato da mudança, do partido diferente dos demais, é o presidente de um país onde seu partido não muda nada, antes conserva com afinco e esmero.
O companheiro, afinal, não passa de mais uma Vossa Excelência, das quais, aliás, já vimos melhores.
Não tenho provas e por isto mesmo não acuso. Apenas digo que, na minha opinião, que só retiro se um juiz ordenar, Vossa Excelência sabia da bandidagem de seus auxiliares e, vai ver, tacitamente a aceitava, ou seja, calava e, pois, consentia. E digo, interprete Vossa Excelência como lhe for servido, que corrupto não é só quem frauda diretamente ou põe dinheiro no bolso: é também quem vê e ou finge que não vê, ou não liga e não faz nada, sabendo que é seu dever fazer algo. Sobretudo em casos assim, a conivência ou negligência faz alarmante fronteira com a cumplicidade. Se o raciocínio é correto, Vossa Excelência está próximo da suspeita de corrupção. Por favor desculpe a franqueza, mas acredito, embora não tenha certeza, que Vossa Excelência ainda prefere a sinceridade à bajulação e à hipocrisia.
Crônica publicada no GLOBO, em 24 de julho de 2005.
1 Comments:
At 12:29 PM, Marco Aurélio said…
Muito bom seu post. Não podemos esquecer desta parte sombria de nossa história. Também escrevi sobre o golpe. Depois dê uma olhada.
Um abraço
Marco Aurélio
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