20/04 - 100 ANOS DE AUGUSTO FREDERICO SCHMIDT!!!
Augusto Frederico Schmidt
Desde o governo de Minas Juscelino se cercou de intelectuais. Encarregava alguns deles de escrever seus discursos, e quando o resultado não correspondia à sua exuberância, mandava o autor "espalhar umas borboletas" no texto.
Na campanha presidencial, JK passou a contar com as luzes do poeta carioca Augusto Frederico Schmidt (1906-1965), que, sem ter feito parte de seu staff, foi um de seus mais preciosos colaboradores, sobretudo como homem dos bastidores.
Além de escritor respeitado, Schmidt era empresário bem-sucedido - entre outros negócios, foi sócio do Disco, o primeiro supermercado do Rio de Janeiro – e arrecadou fundos para a campanha de JK. Ajudou também a vencer resistências que o candidato encontrava, nos meios empresariais, por ter como companheiro de chapa o varguista João Goulart.
Schmidt, que nos anos 1930 foi editor, tendo publicado o primeiro livro de Graciliano Ramos, Caetés, estava longe de ser uma unanimidade. Nos meios literários, havia quem lhe torcesse o nariz por ser empresário. Por outras razões, Mário de Andrade, o papa do modernismo, chamou-o "gordinho sinistro".
Schmidt nunca se desvencilhou de todo da aura de integralista, reforçada pelo fato de ter editado obras de Plínio Salgado. Defensor do capital estrangeiro, era malvisto entre os nacionalistas – razão pela qual o presidente não se animou a fazer dele ministro.
Em seguida ao golpe militar de 1964, que saudou com entusiasmo, Schmidt batalhou o apoio de JK para eleger presidente aquele que lhe cassaria o mandato, o general Castelo Branco.
Fonte: www.projetomemoria.art.br
Pequena Biografia:
Augusto Frederico Schmidt (Rio de Janeiro RJ, 1906 - idem 1965). Trabalhou, no começo da década de 1920, como balconista na Livraria Garnier, no Rio de Janeiro. Nos anos seguintes, foi caixeiro viajante da Casa Carlos V. Pinto, fabricante de aguardente e álcool. Em 1928 publicou as obras poéticas Canto do Brasileiro Augusto Frederico Schmidt e Cantos do Liberto Augusto Frederico Schmidt. Conviveu com autores modernistas, como Mário de Andrade e Oswald de Andrade. Em 1931 fundou a editora Schmidt, que publicou obras importantes como Caetés, de Graciliano Ramos, e Casa Grande & Senzala, de Gilberto Freyre. Entre 1948 e 1964 foram publicados seus livros O Galo Branco, Paisagens e Seres, Discurso aos Jovens Brasileiros, As Florestas, Antologia de Prosa e Prelúdio à Revolução. De 1956 a 1966 ele foi representante do Brasil na Operação Pan-Americana, delegado do Brasil na ONU, e embaixador na Comunidade Econômica Européia. Publicou inúmeros livros de poesia, entre os quais Estrela Solitária (1940), Mensagem aos Poetas Novos (1950) e O Caminho do Frio (1964). Em 1995 foi lançado Poesia Completa, reunindo sua obra. Poeta pertencente à segunda geração do Modernismo, Augusto Frederico Schmidt tematizou em sua obra a morte, a perda, a ausência. Para Manuel Bandeira, o poeta veio quebrar os clichês gastos do modernismo da primeira hora?.
Nascimento/Morte
1906 - Rio de Janeiro RJ - 20 de abril
1965 - Rio de Janeiro RJ - 8 de fevereiro
Quando Eu Morrer
"Quando eu morrer o mundo continuará o mesmo,
A doçura das tardes continuará a envolver as coisas todas.
Como as envolve agora neste instante.
O vento fresco dobrará as árvores esguias
E levantará as nuvens de poesia nas estradas...
Quando eu morrer as águas claras dos rios rolarão ainda,
Rolarão sempre, alvas de espuma
Quando eu morrer as estrelas não cessarão de acender-se no lindo céu noturno,
E nos vergéis onde os pássaros cantam as frutas continuarão a ser doces e boas.
Quando eu morrer os homens continuarão sempre os mesmos.
E hão de esquecer-se do meu caminho silencioso entre eles,
Quando eu morrer os prantos e as alegrias permanecerão
Todas as ânsias e inquietudes do mundo não se modificarão.
Quando eu morrer os prantos e as alegrias permanecerão.
Todas as ânsias e inquietudes do mundo não se modificarão.
Quando eu morrer a humanidade continuará a mesma.
Porque nada sou, nada conto e nada tenho.
Porque sou um grão de poeira perdido no infinito.
Sinto porém, agora, que o mundo sou eu mesmo
E que a sombra descerá por sobre o universo vazio de mim
Quando eu morrer..."
CARTAS DO CORAÇÃO
AUGUSTO FREDERICO SCHIMIDT À YÊDDA
Não sei, mas há um sentimentos novo em mim a teu respeito...
Seria preciso que tu viesses debaixo de uma grande chuva, cheia de uma piedade infinita, e que me desses imediatamente todo o teu carinho- todo o carinho da tua alma.
Seria preciso que me desses meu abandono, todo o teu abandono.
Que só eu estivesse em ti, que me abrigasses no teu coração com uma violência realmente maternal.
Seria preciso tudo isso para que o nosso amor estivesse salvo.É preciso que saibas que tenho sofrido estes dias e por onde tenho andado.
É preciso que eu me confesse a ti. Mas não o posso.
Não tenho, em ti, a grande confiança que é o sinal da unidade das almas.No fundo de mim, há uma grande reserva a teu respeito.
Uma movimentada atitude de espreita.
Será melhor morrer do que continuar assim. Procedeste com uma futilidade que nunca te perdoarei...
Nada neste mundo te deveria fazer deixar de estar comigo domingo, neste domingo em que ia ter contigo, em que eu ia pensar contigo.
Perdoei sempre as tuas indecisões a meu respeito, mas não posso esquecer que preferiste a mim essa vida estúpida e nua de praia de banho.
É melhor não me veres mais do que me fazeres sofrer assim.
Não perdôo a tua leveza diante de minha alma, alma trágica, a alma de uma gravidade que não supões, de uma experiência na dor e no pensamento que a tua infância não sabe avaliar.
Eu me enganei contigo. O meu amor não devia ser teu. Tu o desconheces inteiramente. Tu não lhe prestas a atenção que ele merece.Estou sozinho.
Mil vezes não te tivesse conhecido.
Mil vezes não tivesse encontrado essa aparência que és tu, incapaz de uma longa degradação como eu sou.
O que me causa horror é o seu desapreço por mim, homem de pensamentos, a tua desatenção pelo espírito que eu sou.
Que tenhas feito do homem uma longa brincadeira, está bem, é de mulher nascida de mulher, embora não seja nobre nem justo- mas que tenhas te esquecido de mim...
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