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AMOR NATURAL CULINÁRIA

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sábado, agosto 20, 2005

MAIS UMA DO FABRÍCIO CARPINEJAR - MARAVILHOSO!!


Fabrício Carpinejar - www.carpinejar.blogger.com.br - Vá até lá, além de um ótimo escritor e poeta, o blog prima pelo capricho e bom gosto.

"Não recordo quando parei de acreditar em mim. O dia, a hora, a palavra. Foi no momento em que lembrar virou sinônimo de perda de tempo e passei a me aborrecer ao rever álbuns de fotografias. Confesso a vergonha de minhas imagens. Um despropósito ocupar tantas páginas da família diante do que ficou vazio mais adiante. Centenas de fotografias quando criança e quase nenhuma de adulto. Sofro o temor de não ser o que me prometi. O cansaço de não ter feito. A fome que se satisfaz ao engolir a saliva. Não recordo se foi algum amor banido o motivo do desânimo. Pode ter sido o amor próprio não correspondido.
Desejo recuperar o estado de ingenuidade, de crença, de obstinação da infância e início da adolescência. A consciência de estar a caminho. O encantamento das coisas por acontecer. Acordar como se fosse realmente novo o dia. Nada improvável, nada impossível. Na época, não havia mortos para enterrar, religião para se esconder, lugares proibidos. Os dentes trocavam de lugar e se ria de qualquer jeito. Os pássaros criavam parentesco com os muros. Minhas decisões não influenciavam o mundo, não me arrependia da responsabilidade de agir. Podia escolher a profissão, sem medo de descartar as outras. Ser motivo de brincadeira sem me ofender. Amar sem que isso fosse sedução. Contar histórias sem me preocupar com o estilo. Era tudo por ser. Não usava marcador de página. O livro recomeçava no instinto. Encontrava nuvens sujas apenas no varal. Aceitava todo o convite da luz e afirmava me negando.
Em algum trecho da vida, me flagrei encerrado e consumido. Disse 'basta' e fui precipitado. Se não fosse orgulhoso, voltaria atrás. O orgulho não me permite amadurecer. O orgulho me envelhece. Meus olhos antigos se parecem ilhas desabitadas, longe para o nado. A alegria não é pessoal como a dor, por isso não a consegui prender perto de mim. Hoje posso me barbear com a lâmina da música, mas só me corto com a poesia. Depois da chuva, a terra se desarruma na boca. Crescem ervas e flores estranhas que desconheço o nome para cuidar. Fui arrancado de mim para dar espaço ao que não nasceu. Meus ombros me carregam por costume.
Em algum trecho da vida, ouvi que não devia, que era feio, que não merecia e abafei a resposta. Tranquei a porta do quarto para chorar baixinho. Nunca chorei para ser ouvido. A vergonha de chorar é a mãe de todas as vergonhas. Isso faz a maior diferença. Meu desconsolo não fez amigos. "
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